sexta-feira, 13 de julho de 2012

BEM-TE-VI


Estou chegando ao trabalho para mais um dia de rotina. É uma radiante manhã de segunda-feira. O sol abre seus olhos lentamente. Só ele é capaz de fazer reluzir todos este magnifico globo que temos como nosso eterno e glorificado teto.

Logo que me aproxima da sala dos professores, sou chamado à atenção, para ter cuidado, ao entrar na sala dos mestres. De imediato, a senhora Soledade, sorrindo, vem ao meu encontro. Fiquei parado e atento, para ouvi-la, sem saber o porquê de tanta felicidade. Parei diante da porta e procurei abri-la lentamente, quando vi exuberante bem-te-vi voar de dentro da cozinha. Também não deixei de laureá-lo com um prazeroso sorriso de contentamento, ao saber que nosso radiante dia estava sendo louvado com aquela estimável ave. Era um galhofeiro bem-ti-vi de papo amarelo. Voava sereno como uma esperta borboleta. Seu voo rasante e lento, dentro da sala, demostrava nitidamente o quanto ele estava cansado. Não sabemos como ele pôde pervagar até chegar àquele erudito espaço. Carinhosamente, veio saudar os mestres e beletristas que dignificam o Centro de Humanidades. Voou novamente e pousou na mesa, mas percebi que seu bico aberto demostrava cansaço; outro voou; desta vez, em direção ao armário do professor Bosquinho. Em nenhum momento, demostrou desespero; talvez estivesse ciente de que aquele era um ambiente de intelectuais e não de predadores.

Em passos lentos, procurei abrir a porta, para que ele pudesse sair tranquilo. A claridade da luz fazia com que ele não percebesse a imensa porta; instantes depois, conseguiu ver uma pequena abertura na janela por onde fugiu, cantando, e nós, felizes, aplaudimos, e ele lá fora, retribuiu nosso aplauso, cantando bem-te-vi, bem-te-vi, te-vi, te-vi.

A sábia natureza já o aguardava. Ela jamais negaria a este ilustre filho seu sagrado berço. É ele quem, nas belas manhãs ensolaradas, encanta com seu majestoso fado. Como é lindo vê-lo cantar, como é doce vê-lo pousar neste verdejante pomar!

Neste dia, subi contentíssimo para a biblioteca, mas levando comigo sua imagem e, encantado, dizia para mim mesmo: este bem-te-vi acaba de me oferecer um novo conto.
Sei que, agora livre, ele repousará na imensidão da floresta, e eis aí seu esplêndido berço natural.

Ah! Se você soubesse o quanto o seu canto acalentava meu espírito! Todos os dias, invadiria esta academia para de deleite rejuvenescer nosso peito.

Oh! Bem-te-vi amigo das manhãs nebulosas, como é saudável vê-lo pousar sobre as rosas e orquídeas! Você é como o bravo sertanejo rico em poesia e prosa.

Autor: Antonio Girão Damasceno